domingo, 9 de outubro de 2016

Escolher, entender e agir

Todos dormem, menos ele. Ele lê, pensa, olha. Busca o entendimento. Ele busca aparar as últimas arestas restantes antes do início. Não, a leitura não tem relação com o objeto de análise, mas ajuda a mover as engrenagens mente.
Talvez tudo seja um sonho, talvez não exista realmente uma forma de agir menos danosa. Ele percebe a incessante busca pela comunicação, percebe o movimento de ausência, percebe o que está a sua volta.
Suas próprias necessidades tornam-se secundárias ante a urgência destes ajustes mentais. Ele ainda não se convenceu de que é tudo uma grande ilusão, tão habituado ao que costumava chamar de seu.
Sua ausência é nítida a um ponto que até mesmo ela consegue notar. Envolto no pensar ele continua a medir o tamanho do fosso que terá de saltar e o comprimento da vara que dispõe.
Depois de um tempo tudo fica obsoleto e os casais que sorriem em fotos passam a causar inveja. Não que não existam momentos bons, mas o ácido que hoje corroe uma estrutura tida um dia como modelo de muitos, começa a tocar os alicerces sem que a torneira por onde é despejado tenha sido fechada. Pois bem, se há avisos mas não há a ação é porque a queda do edifício faz parte do plano.
Mas ei! Quanta insegurança! Quanto receio! E por que falas nisto outra vez? Talvez àqueles que nunca tiveram tanto em jogo pareça passividade, permissividade ou apatia, mas é fato que não há como ser peremptório com suas vontades sem avaliar todos os impactos quando o cenário é cheio de inocentes brincando felizes em um campo minado.
Quem sabe hoje ele esteja mais preparado que nunca a fazer o que precisa ser feito. Talvez toda sua vida o tenha preparado para isto. Talvez a história só se repita porque ele ainda não aprendeu que há momentos onde é mister a virada da mesa.
Como entender tão incessante busca por feri-lo? Um deles estragou o dia dos pais, o outro seu aniversário. Ele deixará que haja um terceiro estragando o Natal?
O problema é a escolha, mas como ver além das escolhas que não se entende?
Ela sorri e diz que nada mudou, diz que provavelmente é o último caso, como se Hide fosse deixar, como se não tivesse dito isso antes. Ela diz que quer completar o ciclo como forma de buscar a si mesma e satisfazer àquele que esteve adormecido.
Ele a vê, entende sua dualidade, sabe que seu Jack e seu Hide o amam, mas que Hide quer vingança ante ao seu confinamento. Ele não tem relação com a briga pois, embora seja o motivo não é a razão do sofrimento de Hide, mesmo assim, Jack não nota que "ele" é o sacrifício que Hide o impõe, só notará tarde demais que, Hide ferido decidiu ferir a Jack matando a única coisa que sempre foi sua certeza. Sem forças, Jack permite que Hide o faça, que tome o controle para quem sabe encontrarem harmonia após a vingança.
As areias do tempo escorrendo chegam muito próximo ao fim de seu ciclo, o desfecho se apresenta ante aos olhos daqueles que acordados vêem a situação. Àqueles que dormem, surpreender-se-ão quando aquilo que já é anunciado for sacado a luz, quando a névoa ser dissipar.
Hide ri copiosamente, pois sabe o que está fazendo, sabe cada passo que dá e ele nunca dorme. Jack dormindo, ri junto tentando se amigar a Hide que acena de volta enquanto saboreia cada passo na direção de sua doce vingança.
Ele sabe que ninguém o impedirá, sabe que conseguirá, sabe o que causará mas a ele não importa. Tudo que ele quer é subjulgar Jack fazendo-o entender que é mais forte, mesmo que Jack não queria lutar.
Enquanto isto, no corpo ao lado, ele a observa. Ele busca uma luz que indique um ponto de retorno. Talvez seja tarde, parece que o hospedeiro foi completamente tomado. Hide é o único ali e quer liberdade.
Talvez amar seja isto, buscar entender cada necessidade de quem é objeto deste amor mesmo quando não há um retorno. Hide quer viver, Jack não se importa e ele não lutará contra eles, não será barreira.
A vida é feita de atitudes nem sempre descentes ante aos olhos dos outros, porém não nos cabe julgar quem tem a certeza de fazer o certo.
"Tu tens fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem aventurado aquele que não condena a si mesmo naquilo que aprova".
Pensar por si mesmo é ser livre e não há nada tão sério quanto está dádiva. Quem é livre não pode fechar os olhos ou olhar pra trás sem um aprendizado para o futuro.
Uma escolha leva a outra e as consequências de todas trazem ao momento presente. O problema é a escolha. Mas nem sempre a questão é escolher. Na maioria das vezes a escolha é feita já nos primeiros instantes. O tempo que leva até a ação está diretamente relacionado ao período que se leva para entender a primeira escolha.
Escolher, entender e então agir.
That's it.

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