sexta-feira, 8 de abril de 2011

Merovingian

Maitre: Posso ajudar?
Morpheus: Viemos falar com o Merovíngio.
Maitre: Claro, ele está à sua espera, sigam-me.
Merovíngio: Aqui está ele, finalmente. Neo, o escolhido em pessoa certo? E o lendário Morpheus, e Trinity, claro, tão linda que me faz sofrer. Ouvi falar muito de vocês, sentem-se por favor. Está é minha esposa, Persephone. Querem comer algo? Beber? Claro que são só ilusões, como muita coisa aqui, para salvar as aparências.
Neo: Não obrigado.
Merovíngio: Sim, claro. Quem tem tempo para isso? Quem tem tempo? Mas, se não nos dermos tempo, como podemos jamais tê-lo? Chateau Haut-Brion, 1959, um vinho magnífico, adoro os vinhos franceses, como adoro o idioma francês. Experimentei todos e o francês é o meu favorito, é fantástico, especialmente para praguejar. É como limpar a bunda com seda, adoro isso.
Morpheus: Sabe porque estamos aqui.
Merovíngio: Sou um traficante de informações, sei tudo o que posso saber. A questão é: vocês sabem porque estão aqui?
Morpheus: Estamos procurando o chaveiro.
Merovíngio: Ah, sim, é verdade, o chaveiro é claro. Mas isso não é um motivo, não é um porque. O chaveiro, por sua própria natureza, é um meio, não um fim. Portanto, procurá-lo é procurar um meio para fazer ... o que?
Neo: Você sabe a resposta.
Merovíngio: E você? Sabe? Acha que sabe, mas não sabe, você está aqui porque foi enviado, foi mandado aqui e obedeceu, naturalmente, tudo funciona assim. Só existe uma constante, uma regra universal, é a única verdade real: causalidade. Ação e reação, causa e efeito.
Morpheus: Tudo começa com uma escolha.
Merovíngio: Não, errado, a escolha é uma ilusão criada entre os que tem poder e os que não tem. Vejam aquela mulher, meu deus, olhem para ela, afeta todos ao seu redor, tão óbvia, tão burguesa, tão entediante, mas esperem; mandei dar a ela uma sobremesa, uma sobremesa muito especial, eu mesmo a escrevi, começa tão simples, cada linha do programa criando um novo efeito, como um poema. Primeiro uma onda de calor, seu coração palpita. Ela não entende o porque, será o vinho? Não, o que será então? Qual será a razão? Logo isso já não importa, logo o porque e a razão desaparecem e só o que importa é a sensação em si. Essa é a natureza do universo, resistimos, lutamos contra ela, mas é um fingimento, claro uma mentira. Por baixo de nossa aparência formal a verdade é que estamos completamente fora de controle. Causalidade, não há como escapar dela, somos seus eternos escravos, nossa única esperança, nossa única paz é entendê-la, entender o porque, o porque é o que separa essa gente de nós e vocês de mim. É a única fonte de poder, sem ele, vocês são impotentes, e é assim que vocês me procuram, sem um porque, sem poder. Mais um elo na corrente, mas não temam, agora que eu vi como vocês são bons em obedecer, vou dizer o que devem fazer. Voltem correndo a dêem este recado àquela cartomante: o tempo dela está quase no fim. Agora, tenho negócios de verdade a tratar, portanto, adeus.
Neo: Isto não acabou.
Merovíngio: Acabou sim, o chaveiro é meu, e não vejo nenhum motivo para me desfazer dele, nenhum motivo mesmo.

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