sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Pra que?

É lamentável. É lastimável. O que é mais corrosivo? A briga intensa de uma noite ou os pequenos socos no estômago do dia a dia?
Tem aqueles momentos na vida em que se é confrontado com a própria insignificância, e não por autopiedade mas por uma constatação fatídica irrefutável. Como quando você passa meses com barba e um dia a retira e vai trabalhar normalmente sem que absolutamente ninguém perceba qualquer mudança.
As pessoas costumam viver indicando uma independência em relação aos outros. Somos condicionados a crer que somos bons e que nossas escolhas são imponentes, mais bem pensadas e acertadas que aqueles a quem criticados. Beira ao estranho notar que a insignificância incomoda principalmente à alguém que exibe no peito a certeza lidar bem com a solidão.
Se eu sumisse do mundo, que de mim faria falta a quem? Provavelmente a ausência da presença seria sentia por um curto período de tempo, a ausência mais duradoura seria principalmente a de ações, quase como se estragasse uma máquina, algo facilmente reparável com a compra de uma nova.
Ver. Uma postura aqui, uma omissão ali, um abraço negado, um comentário alheio em uma postagem que mostra mais intimidade com o ser amado do que você, um trecho lido sem intenção ao passar perto que demonstra mais abertura com outro que contigo. É quando você é confrontado com a realidade de ser descartável que começa a se perguntar o por quê de tanta luta. É porque ou por que?
São os pequenos detalhes que minam a autoconfiança e a fé. Pra que eu sirvo? Qual minha real função no mundo? Será que sou só um pai meia boca e um funcionário pouco importante? "Quando é que ele volta de férias? Cheio de coisa pra passar pra ele". Só que eu estou aqui. Então pra que eu sirvo?
Sem importância em casa, despercebido no visual, substituível no trabalho. Só mais um fracassado.
Como voltar a sorrir ante a tanta coisa junta? Como não entender o que é claro? Aquele que nunca toma decisões precipitadas começa a caminhar a passos lerdos, com entendimento de que a não escolha, sua escolha comum, desta vez irá leva-lo a morte. E ele já sente o seu gosto após um breve período de felicidade em uma vida plena. Sente medo, como em outros momentos em que não querendo precisou se mover.
Não se é feliz, felicidade é um estado. Assim também não se é triste, mas é muito mais difícil sair deste estado. Ele precisa se sentir vivo, se sentir importante, talvez não exija tanto ... Mas ele não vive se não for ao menos necessário. Não uma frase de "você é importante" mas uma atitude de "sem você isto seria impossível".
É curioso a devastação que sente em si, não tem mais forças pra lutar, não consegue mais vociferar o que sente, passa o tempo todo com sensação de choro, mas nem isto ele sabe fazer.
Precisa desesperadamente achar o seu lugar no mundo. Precisa sentir que não está só. Precisa de um lugar onde descansar, um recanto de paz. Não pode reclamar, não tem com quem se abrir, não consegue projetar o amanhã. Precisa sentir que está vivo, que faz alguma diferença para alguém, precisa entender onde ir e o que fazer. Do jeito que vive não durará muito tempo. Lutar todo o tempo por conquistas perdidas ao mesmo tempo tentando o obter novas. Então, pra que viver?

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