sábado, 10 de setembro de 2016

Os bêbados e o equilibrista

E fica tudo assim, meio certo meio errado. As vezes toda sujeita sai de uma vez debaixo do tapete e demora até que se encontre uma forma de limpa-la totalmente.
Quantas vezes o que vem a cabeça é a ideia de se desfazer de tudo e tentar um novo começo? Mas ele já está cansado de recomeçar, sente que cada vez é mais difícil e mais dispendioso iniciar um novo movimento e agora há muito mais o que pensar.
O que ele sente agora, de tão corriqueiro já chama pelo apelido. Já não crê mais que alguém no mundo seja diferente então nada muda independente do cuidado na construção. Sempre os mesmos problemas, sempre as mesmas pedras, aquilo que ele conhece tão bem.
Se sente distante, só e incompreendido, se sente vituperado, vilipendiado e cansado. Sente que não tem mais forças pra lutar contra o destino, se é isto que ele tem que viver será senhor da correnteza, dominará a maré.
Ele atravessou um deserto com a promessa de um lugar melhor e agora só encontra uma terra infértil e salgada onde morrem os sonhos.
Verdade que fora avisado a retornar antes, mas não via motivo para deixar a caravana apesar dos avisos. Hoje, com pesar entende que deveria ter ido quando lhe deram a ordem, assim ainda acreditaria que fosse possível.
Agora não faz mais diferença ir ou ficar, ele já não tem mais esperanças de um novo amanhã, ele não crê que uma decisão sua mude algo. Mudar a estrutura novamente com muito esforço para se deparar novamente com os mesmos problemas não é algo que ele fará ou que ele suportaria. É quase como um carro com defeitos, ele sabe que reparos tem que fazer neste, mas troca-lo implica em adquirir um com outros problemas que ele nem imagina a extensão.
Como guerreiro, ele está agora vestindo a armadura e preparando arsenais para lutar uma batalha da qual ele sempre fugiu, lutar contra si mesmo para se adequar ao padrão do mundo em que vive, não o que deveria ter nascido. Ele sabe bem a doença desta geração e sabe que só será feliz aceitando que nunca encontrará alguém que não sofra deste mal.
No fim, todos os seres humanos são assim, talvez tenham nascido doentes, talvez tenham adoecido no caminho, certo é que se ele não adoecer também nunca terá uma vida plena.
Sente-se como alguém sóbrio em uma mesa de bêbados, ou se levanta e vai embora, ou bebê para nivelar-se aos outros que perdidos acreditam ter se encontrado. O grande problema é que está mesa é o mundo e não há uma maneira fácil de levantar-se e ir embora. O jeito parece ser mesmo aceitar a bebida e ver no que dá. Ocupar-se de viver ou ocupar-se de morrer.

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