Quantas vezes mais será necessário recomeçar do zero? Quanto tempo mais é possível viver sendo atropelado pela fatos?
Não é doce o que acontece, não é bom o futuro que se vislumbra cheio de incertezas e com certezas de coisas ruins. Como se livrar da mágoa e da dor para poder seguir em frente? Como perdoar alguém que não vê erro em suas atitudes? Pois se não vê erro tende a repeti-las e neste sentido o perdão deve ser posterior e prévio. Como entender que a distância e a auto negação estão se tornando uma regra onde dia após dia será necessário engolir mais um sapo para permanecer ao lado de quem se ama? E se não for amor? Se for só costume ou medo? E se tudo isso não fizer sentido? Termina um caso começa outro e assim, cada dia mais, o que deveria ser alegria se torna tristeza e fúria.
Depois de um tempo vem a anestesia, parece que não dói mais. Parece que nada importa mais. É quando um plano para o final do ano, uma iminência de visita boa, um planejamento futuro te fazem sentir dor ao invés de prazer. Estarei aqui quando isso ocorrer? Quanto tempo ainda sou capaz de suportar tudo isto? Deus sabe meus motivos e tudo que se passa em minha cabeça, mas seria justo despejar isto mundo?
Quando alguém que sempre foi sereno se vê acuado, vituperado e pressionado e assim, numa noite ruim encontra a saída e tem a faca e o queijo nas mãos, a tentação de utiliza-los se torna quase uma companheira de corpo. Por que então ele simplesmente não faz o que tem que ser feito? Por que ele não quer ferir a quem o fere de morte? Por que ele tenta tanto se agarrar ao que aparentemente não tem futuro?
Seriam as coisas conquistadas? Seriam as pessoas envolvidas? Seria aquilo que não pode ir com ele ou a comodidade de não ter mais que recomeçar? Ele conhece aquela estrada, sabe onde vai dar. Assim também conhece cada detalhe da estrada que está trilhando e, embora não tenha contado a ninguém ou parte seja constantemente rechaçada por quem detém as informações, ele sabe que até o momento tudo correr exatamente como aquilo que ele já conhece e que não houveram previsões erradas mesmo tendo ele vociferado outras previsões, mais amenas e que não se confirmaram, para não ter que explicar os medos que ele mesmo não entende.
Ele sofre pelo que já perdeu, sofre pelo que ainda não perdeu mas perderá, sofre pela visão de estar novamente com uma mala de trapos a beira de uma estrada pensando em como recomeçar. Ele sofre pelo valor que sabe que tem e pelo valor que não lhe dão, sofre pelo erro e pelo possível sofrimento alheio. Ele sofre porque sabe que precisa abrir o paraquedas ou a aza delta mas ainda não entende qual dos dois fará doer menos. Ele sofre porque sabe que ficar é permanecer vendo um filme que ele não quer encontrando-se com dores que não esperava mais viver e também porque partir é dar de cara com fantasmas que ele sempre soube que estavam a sua espreita mas que não lembrava mais como eram.
Sozinho no mundo, nem conversar ele pode. Não quer ser prisão para ninguém, não quer ao seu lado ninguém que não queria estar, mas não pode viver com o que lhe é oferecido.
Novamente o mesmo impasse, novamente a vida lhe põe contra a parede para que ele tome uma atitude, para que ele escolha. Contentar-se-a com a não escolha mais uma vez? Será que não é este o motivo pelo qual este martírio se repete a cada ciclo? Ou será que ele realmente não nasceu para ser de um único alguém? Será que seu destino é ficar por um período determinado de tempo na vida das pessoas e então partir? Será que ele é mesmo um anjo? Se for, por quê tudo dói tanto?
Ele está ávido por entender as nuances daquilo que o cerca porém, mais uma vez está paralisado pelo medo de se precipitar ou de cometer uma injustiça. Mais uma vez não quer dar o passo definitivo embora a emoção implore a ele.
Quando lhe é permitido falar sobre, o faz desenfreadamente buscando qualquer coisa a que se agarrar que lhe faça finalmente subjugar o instinto de agir, mas são tão poucas oportunidades em janelas que se fecham tão depressa.
Partir ou ficar? Ele realmente não sabe.
E agora José? Para onde?