Três pessoas, em comum seu sangue. Três proscritos. Em um momento de introspecção após o fim, após ver a poeira baixar, sentado em algum lugar com a certeza de estar fora do alcance deles, percebeu que foi usado, percebeu que todo tempo esteve perto porque servia, notou que foi surrupiado de todas as maneiras possíveis, perdeu tempo, dinheiro, cabelos, paciência, ternura, amor, perdeu seu silêncio e sua calma, perdeu sua segurança corriqueira. De si, restavam apenas cacos e então percebeu a verdade, fora acometido de assalto, nunca ouve ternura e se ouve foi por um lampejo de tempo apenas, após retornando a sua condição natural de metrópole explorando colônia.
Percebeu que ninguém poderia fazer nada consigo se ele mesmo não o permitisse e isto lhe trouxe a noção exata de que ele sabia dos furtos mas permitiu que acontecessem na esperança de ver a mudança, de ser o milagre, de modificar a vida daquela família, de ser o divisor de águas. Que objetivos mesquinhos teve. E agora? Perdeste muito, acreditaste demais, percebeste que nada é o que parece e que deves percorrer tua jornada e recuperar o que foi perdido.
O que ficou em ti foi a sensação do roubo, aquela pontada que fica no peito como quem quer ir atrás do ladrão e recuperar o que foi levado mesmo sabendo que não há mais como ter seus pertences de volta. O que ficou em ti foi a mania (que você não tinha antes disto) de ter o pé atrás, de calcular cada situação, analisar cada rosto, cada mudança de rotina, cada pequeno detalhe tentando prever o futuro e se antecipar a ele, guardando o que te restou dos olhos vorazes dos possíveis salteadores que estiverem a tua volta e como você já sabe que larápios se escondem atrás de sorrisos e palavras bonitas, agora tomas cuidado até com os mais próximos. Triste destino onde tens que reconstruir tua confiança para ser digno da felicidade.
Tudo passa e o sol voltará amanhã sabendo que o que vem é perfeição e que esta sensação dará lugar a alegria de não ter mais teus muros cobertos de arames e cercas elétricas, de não se assustar mais, a alegria de estar num lugar seguro sabendo que é tua morada, um lugar que finalmente possas chamar de lar. Percebes que está mais próximo deste lugar a cada dia, que os medos tem ficado para trás e a cabeça começa a se erguer, talvez seja hora de deixar de se preocupar, talvez, mas ainda tens aquele pé atrás, ainda esperas o detalhe que te faça ter certeza de que nunca mais terás que recomeçar.
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