sábado, 13 de agosto de 2016

Dom Quixote


Textos são como educação de filhos, não dá pra por no mundo um que vá torna-lo pior. Por outro lado, há esta necessidade intensa de contar pra si mesmo o que se sente. Desta forma, poucos textos saem de um sentimento já compreendido, a maioria deles nasce da incompreensão das situações e enquanto são construídos são ao autor um vislumbre daquilo que se passa em seu interior.
Talvez vendo desta forma, seja mais fácil compreender porque é tão difícil escrever quando se está bem já que felicidade não demanda reflexão. Também não é apropriado utilizar este subterfúgio quando se está extremamente triste já que é difícil focar as situações quando os sentimentos estão aflorados, sendo algo escrito neste estado de espírito somente uma análise do próprio sentimento e não do momento em si. Algo assim é praticamente inútil já que compreender um sentimento não muda a intensidade e a direção de sua correnteza.
Sobra então aqueles momentos de dúvidas, de conflitos onde há a necessidade de reação ante a estagnação causada pela dúvida. Estes momentos são perigosos pois colocam em risco tudo que se compreende e acredita, te fazem questionar tuas certezas e te colocam em cheque, exigindo coragem, fibra e resistência.
Como tomar uma decisão baseando-se em fatos que não se entende e em sentimentos que não se sabe que tem. 
This shit again?
Quantos traumas se adquirem e são reavivados durante uma vida? Aceitar o destino é mais simples que lutar contra a correnteza? Seguir em frente ou desistir? 
Estas portas que não se abrem, estes caminhos sinuosos sem indicação de direção. De que abrir mão? Já comentei anteriormente que a "não escolha" também é uma forma de escolha já que trás uma consequência igualmente complexa e te leva por um caminho igualmente turvo.
Quando as cortinas do destino se abrem te dando novos elementos é inevitável se perguntar se o porque é junto ou separado. Duro é entender que algumas situações são parte da colheita de teus erros do passado, mais duro ainda são as situações onde não se compreende de onde veio o tiro, aquelas que não se sabe porque é obrigado a passar.
Como se pode ser sábio com conceitos pré moldados? O tempo passa e a gente perde beleza e inteligência, mas não deve nunca perder a sabedoria. Abraão por duas vezes em momentos de perigo foi capaz de permitir que sua mulher se deitasse com outros homens como forma de preservar ambos permitindo-lhes uma melhor vida futura. O que a Bíblia não relata é o sentimento de seu coração. E se você tivesse uma escolha destas pela frente a fim de preservar sua família? Conseguiria ter tamanha frieza e sabedoria ou lutaria contra a correnteza custe o que custar? Exemplo extremo das escolhas de difícil compreensão que a vida pode impôr a alguém.
E como tomar uma decisão tão importante se não se compreende o que se sente?
O respeito ao próximo exige a aceitação de suas escolhas ainda que isto interfira em sua paz, mas quem é que tem direito a ela? Amar é permitir que cada um seja o que é e viva da forma que compreende ser melhor, é baixar a guarda e levantar a bandeira branca para evitar uma guerra, é compreender que quando não se é suficiente para saciar as necessidades o melhor é permitir que este abra suas asas e levante vôo. Amar é compreender que nem tudo é um ato de afronta e que nem toda decepção é intencional, é compreender que há momentos em que o outro não compreenderá os próprios sentimentos e com isto ferirá os teus, mas acima de tudo é estar disponível para ampara-lo quando as coisas derem errado ou quando este finalmente compreender o que o fará feliz. Amar é tratar com a verdade e com a liberdade. Quando se ama alguém não se tem um título de posse, mas como é difícil permitir que este seja livre. Por vários momentos o sentimento será de decepção, mas isto está diretamente ao teu próprio sentimento, a tua vontade de controle e não a um ato qualquer. Na vida é necessário compreender as pessoas e se permitir chorar de vez em quando, para que, após recuperado o ânimo se possa ter a força que os fracos não tem de se manter lutando batalhas perdidas. E se os dragões forem moinhos de vento? Só o tempo dirá. Mas você só descobrirá se for sábio.
Quem pensa por si mesmo é livre, mas não há nada mais sério que ser livre e por isto responsável por seus atos. E se o grande teste de uma escolha é ter que faze-la uma outra vez, aqui estou eu tomando o mesmo caminho esperando resultados diferentes já que compreendi com a minha história que, de uma forma ou de outra as coisas sem culminam nesta mesma encruzilhada.
E se este for o começo do fim? Então, que sejam por amor as causas perdidas!

Um comentário:

Ana Seberino Kucker disse...

Texto maravilhoso! Continua um escritor incrível, aquele por quem me apaixonei!