Caiu. Quebrou. Ele juntou os cacos e os colou o melhor que pode, mas ficaram marcas. As marcas de um incidente inesperado e sem sentido que colocaram tudo a perder. Mas por que ele não usou uma vassoura e colocou tudo no lixo? Por quê não comprou um produto novo livre da ação do tempo e das marcas de incidentes. Talvez, o que quebrou tenha valor inestimável, talvez ele nunca tenha visto similar no mercado.
Ele acredita tanto no valor único daquilo que foi destruído que está agora debruçado sobre os cacos tentando entender se a recuperação é possível, se ainda pode seguir como antes, se a água não vai escorrer por entre os espaços que ficaram. Ele tinha um orgulho quase infantil do que tinha nas mãos. Talvez, tamanha idolatria tenha sido a razão daquela queda pois, na ânsia de proteger seu precioso objeto acabou esbarrando nele.
Certo é que nunca mais será um objeto exposto em sua estante, nem terá mais o destaque que obtinha ante aos seus visitantes. Agora, só uma peça de louça cheia de ranhuras em seu entorno, ele precisa encontrar um novo objetivo, uma nova razão para manter próximo a si o objeto quebrado.
Então ... por que ele empenhasse tanto no reparo? Nem ele sabe ao certo. O realiza em meio a lágrimas que escorrem de seu rosto e embargam sua garganta. Se perguntarem para ele ele dirá que ainda não está pronto pra joga-lo fora. Dirá que sua queda fôra uma surpresa num momento em que a felicidade era plena e em que tudo corria bem. Ele só sabe que não pode jogar fora agora e que, mesmo quebrado, parece ainda ter muito valor.
Talvez um dia ele descubra uma nova função ou consiga finalmente libertar-se permitindo que algum outro, que já conheceu o objeto quebrado se sinta feliz em te-lo. Ele segue colando os pedaços, espera que tudo fique bem e que ao final do reparo ele se esqueça que um dia deixou cair seu mais preciso bem. Nele, só restam a decepção e a tristeza. O inesperado dói, mas ele sabe que se houver conserto ele descobrirá uma forma.