sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Ao que se quebrou

Caiu. Quebrou. Ele juntou os cacos e os colou o melhor que pode, mas ficaram marcas. As marcas de um incidente inesperado e sem sentido que colocaram tudo a perder. Mas por que ele não usou uma vassoura e colocou tudo no lixo? Por quê não comprou um produto novo livre da ação do tempo e das marcas de incidentes. Talvez, o que quebrou tenha valor inestimável, talvez ele nunca tenha visto similar no mercado.
Ele acredita tanto no valor único daquilo que foi destruído que está agora debruçado sobre os cacos tentando entender se a recuperação é possível, se ainda pode seguir como antes, se a água não vai  escorrer por entre os espaços que ficaram. Ele tinha um orgulho quase infantil do que tinha nas mãos. Talvez, tamanha idolatria tenha sido a razão daquela queda pois, na ânsia de proteger seu precioso objeto acabou esbarrando nele.
Certo é que nunca mais será um objeto exposto em sua estante, nem terá mais o destaque que obtinha ante aos seus visitantes. Agora, só uma peça de louça cheia de ranhuras em seu entorno, ele precisa encontrar um novo objetivo, uma nova razão para manter próximo a si o objeto quebrado.
Então ... por que ele empenhasse tanto no reparo? Nem ele sabe ao certo. O realiza em meio a lágrimas que escorrem de seu rosto e embargam sua garganta. Se perguntarem para ele ele dirá que ainda não está pronto pra joga-lo fora. Dirá que sua queda fôra uma surpresa num momento em que a felicidade era plena e em que tudo corria bem. Ele só sabe que não pode jogar fora agora e que, mesmo quebrado, parece ainda ter muito valor.
Talvez um dia ele descubra uma nova função ou consiga finalmente libertar-se permitindo que algum outro, que já conheceu o objeto quebrado se sinta feliz em te-lo. Ele segue colando os pedaços, espera que tudo fique bem e que ao final do reparo ele se esqueça que um dia deixou cair seu mais preciso bem. Nele, só restam a decepção e a tristeza. O inesperado dói, mas ele sabe que se houver conserto ele descobrirá uma forma.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Foda-se

Há certos momentos de encruzilhada na vida, onde tudo que se crê é posto a prova, onde a paciência e a sabedoria são testadas ao seu máximo limite.
Algumas vezes é melhor deixar que as coisas corram soltas pra entender até onde são capazes desembocar.
E agora? Não era uma brincadeira, não era um teste, não era uma tentativa de por a própria liberdade a prova.
Uma vez bati forte o carro contra o muro de uma loja. Era de noite, resolvi tudo da melhor maneira possível e então fui dormir. No dia seguinte acordei desejando que tudo aquilo não passasse de um pesadelo, mas não era. Quando sai de casa, lá estava na garagem meu carro destruído, lá estava eu pegando um ônibus para ir ao trabalho. Existem momentos na vida que são tão doloridos que a gente chega a desejar que não passem um pesadelo. E quando se acorda para a realidade e vê que o pesadelo foi real, não se sabe ao certo como agir.
Encruzilhadas. A minha falta de coragem sempre me levou a elas. Não querendo ferir aos outros castigo a mim mesmo. Como quando assumi a culpa de um primo para que os irmãos não apanhassem injustamente. Quem sabe por isto está situação se repita tantas vezes. Porque eu tenho que tomar uma atitude drástica em algum momento da vida. Quem sabe não seja esta a lição a ser aprendida. Não consigo imaginar o que eu possa ter feito nesta ou em outra via que me leve a ser merecedor de passar por isto tantas vezes. Será porque confio demais nas pessoas? Talvez não exista mesmo ninguém confiável. 
Ninguém pensou em como eu me sentiria, ninguém pensou nas crianças perguntando pelo ser ausente a todo instante como agulhadas aumentando a dor. Ninguém pensa porque tudo que importa é a diversão e a satisfação pessoal. Grande merda. Na vida algumas escolhas levam a estragos inimagináveis. Como esta palavra, que se repete na minha cabeça, na qual eu nunca acreditei mas que agora faz tanto sentido que preciso lutar com todas as minhas forças para que a razão controle a emoção e, mesmo que neste ponto a razão concorde com a emoção, ela é a emissária das coisas que se decidem na mente e como tal, ainda que discorde da ordem tem que cumprir com o seu papel.
Há muito mais em jogo que somente a minha honra ou satisfação pessoal. Há a necessidade de se pensar nos efeitos de reagir a este impulso e tomar a atitude que sem dúvidas é a mais acertada. Agora parece que o ideal é deixar as coisas correrem, ver até onde eu suporto, quantas pancadas ainda aguento antes de cair.
Suicídio seria caminho fácil, mas teria o mesmo efeito colateral de ceder aquela palavra que não para de ser repetida em minha mente. Preciso ficar mais um pouco neste mundo. Preciso suportar um pouco mais tudo isto.
Talvez seja esta minha função no mundo. Aguentar as dores que a maioria não suportaria mesmo estando sozinho no mundo. Que falta faz alguém ao meu lado. Mas faz parte deste padrão incômodo que as vezes parece até um carma.
6 anos se passaram e as lágrimas voltaram a escorrer o meu rosto, aquelas que achei que nunca voltariam, não por algo quebrado mas pela dor dilacerante que corrói a alma causada por este absurdo humilhante, só mais um dentre tantos que já me afligiam, mas pela primeira vez com tanta complexidade envolvida.
Este blog foi criado pra saber sempre o que eu sentia, mas não consigo descrever o quanto dói ser traído duplamente vendo depois um movimento de jogo para que se aceitasse espontaneamente o inaceitável ato já consumado ainda que não dê maneira efetiva. "Farei. Será por bem ou por mal?"

Decepção, mágoa, dor, humilhação e tristeza.
Quem sabe um dia eu ria disto.
Por hora: FODA-SE

sábado, 13 de agosto de 2016

Dom Quixote


Textos são como educação de filhos, não dá pra por no mundo um que vá torna-lo pior. Por outro lado, há esta necessidade intensa de contar pra si mesmo o que se sente. Desta forma, poucos textos saem de um sentimento já compreendido, a maioria deles nasce da incompreensão das situações e enquanto são construídos são ao autor um vislumbre daquilo que se passa em seu interior.
Talvez vendo desta forma, seja mais fácil compreender porque é tão difícil escrever quando se está bem já que felicidade não demanda reflexão. Também não é apropriado utilizar este subterfúgio quando se está extremamente triste já que é difícil focar as situações quando os sentimentos estão aflorados, sendo algo escrito neste estado de espírito somente uma análise do próprio sentimento e não do momento em si. Algo assim é praticamente inútil já que compreender um sentimento não muda a intensidade e a direção de sua correnteza.
Sobra então aqueles momentos de dúvidas, de conflitos onde há a necessidade de reação ante a estagnação causada pela dúvida. Estes momentos são perigosos pois colocam em risco tudo que se compreende e acredita, te fazem questionar tuas certezas e te colocam em cheque, exigindo coragem, fibra e resistência.
Como tomar uma decisão baseando-se em fatos que não se entende e em sentimentos que não se sabe que tem. 
This shit again?
Quantos traumas se adquirem e são reavivados durante uma vida? Aceitar o destino é mais simples que lutar contra a correnteza? Seguir em frente ou desistir? 
Estas portas que não se abrem, estes caminhos sinuosos sem indicação de direção. De que abrir mão? Já comentei anteriormente que a "não escolha" também é uma forma de escolha já que trás uma consequência igualmente complexa e te leva por um caminho igualmente turvo.
Quando as cortinas do destino se abrem te dando novos elementos é inevitável se perguntar se o porque é junto ou separado. Duro é entender que algumas situações são parte da colheita de teus erros do passado, mais duro ainda são as situações onde não se compreende de onde veio o tiro, aquelas que não se sabe porque é obrigado a passar.
Como se pode ser sábio com conceitos pré moldados? O tempo passa e a gente perde beleza e inteligência, mas não deve nunca perder a sabedoria. Abraão por duas vezes em momentos de perigo foi capaz de permitir que sua mulher se deitasse com outros homens como forma de preservar ambos permitindo-lhes uma melhor vida futura. O que a Bíblia não relata é o sentimento de seu coração. E se você tivesse uma escolha destas pela frente a fim de preservar sua família? Conseguiria ter tamanha frieza e sabedoria ou lutaria contra a correnteza custe o que custar? Exemplo extremo das escolhas de difícil compreensão que a vida pode impôr a alguém.
E como tomar uma decisão tão importante se não se compreende o que se sente?
O respeito ao próximo exige a aceitação de suas escolhas ainda que isto interfira em sua paz, mas quem é que tem direito a ela? Amar é permitir que cada um seja o que é e viva da forma que compreende ser melhor, é baixar a guarda e levantar a bandeira branca para evitar uma guerra, é compreender que quando não se é suficiente para saciar as necessidades o melhor é permitir que este abra suas asas e levante vôo. Amar é compreender que nem tudo é um ato de afronta e que nem toda decepção é intencional, é compreender que há momentos em que o outro não compreenderá os próprios sentimentos e com isto ferirá os teus, mas acima de tudo é estar disponível para ampara-lo quando as coisas derem errado ou quando este finalmente compreender o que o fará feliz. Amar é tratar com a verdade e com a liberdade. Quando se ama alguém não se tem um título de posse, mas como é difícil permitir que este seja livre. Por vários momentos o sentimento será de decepção, mas isto está diretamente ao teu próprio sentimento, a tua vontade de controle e não a um ato qualquer. Na vida é necessário compreender as pessoas e se permitir chorar de vez em quando, para que, após recuperado o ânimo se possa ter a força que os fracos não tem de se manter lutando batalhas perdidas. E se os dragões forem moinhos de vento? Só o tempo dirá. Mas você só descobrirá se for sábio.
Quem pensa por si mesmo é livre, mas não há nada mais sério que ser livre e por isto responsável por seus atos. E se o grande teste de uma escolha é ter que faze-la uma outra vez, aqui estou eu tomando o mesmo caminho esperando resultados diferentes já que compreendi com a minha história que, de uma forma ou de outra as coisas sem culminam nesta mesma encruzilhada.
E se este for o começo do fim? Então, que sejam por amor as causas perdidas!