quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Ensaio sobre a inexistência

Nada existe nem tem como existir num mundo de tempo linear e matéria. Se algo existisse um dia teria que ter decidido existir quando ainda nada havia. Talvez nem mesmo o pensamento seja algo real.

A existência da própria matéria é abstrata já que ela não pode criar a si própria sem que algo anterior a ela a tenha criado e dado parâmetros e direções. Mesmo o próprio Deus que criou tudo teve que existir do mais absoluto nada concluindo é claro que ele é o criador do próprio espaço-tempo mas, ainda assim, ele precisa ter criado a si mesmo para existir antes disso.

Então como pode a existência ser possível na limitada compreensão humana?

Se formos a fundo descobrimos que, mesmo as mais singelas sensações são somente toques de carga elétrica já que os átomos não chegam a se tocar. Nem mesmo os prótons e elétrons o que indica que até no mundo molecular só existe mesmo a energia que se comunica, se atrai e se repele sem nunca permitir que a matéria faça um contato real. O mais absurdo é que sentimos o toque, as ondas sonoras, vemos, cheiramos mas nada disso é real.

Se prosseguirmos, entendemos que todos os medos e preocupações humanas só existem nos pensamentos que circulam dentro da caixa fechada do próprio ser que, num piscar de olhos deixa de existir. A realidade do próprio pensamento está condicionada ao período do espaço tempo em que o ser existe até não mais existir, ou seja, aquilo que há de mais real ainda assim é uma realidade extremamente limitada e finita. 

Então. O que é que existe de verdade? O que é real?

A minha própria percepção me limita o entendimento mas, a existência em si me parece ser tão impossível quanto a do próprio pensamento que só se materializa porque aqui estou eu questionando aquilo que não tem e não terá resposta. Somos limitados. Somos finitos. Somos únicos mas ainda assim somos nada.

Se voltamos ao criador como indivíduos ou diluídos em sua infinita energia, ainda assim não existimos de verdade, apenas cremos existir porque isso nos foi permitido mesmo sem sermos nada além de poeira repleta de energia que do absoluto nada se criou. Se pararmos para pensar sobre a parábola do oleiro, entendemos que fomos construídos em uma linha que não nos permite escolha própria além da gama de reações que fomos programados para ter. Pode o vazo dizer ao oleiro "por que me fizeste assim?"?

A questão aqui é que concluir se existimos ou não, não é possível nem neste ensaio nem neste mundo porque enquanto para nós o tempo for linear, isto é, passado-presente-futuro, não temos como ver as coisas como elas realmente são.

O que nos resta é ser honestos conosco entendendo que tudo que pode ser deixado não existe mas que aquilo que existe precisa ser real enquanto for seu tempo. Nos tornarmos melhores é a essência de uma existência permitida num mundo impossível porque, em algum momento isso nos foi exigido quer por puro capricho (caso voltemos como energia pura) ou por evolução espiritual (se voltamos como indivíduos).

Citando novamente a bíblia que diz que dele, por ele e para ele são todas as coisas, podemos entender que realmente a energia que nos forma vem daquele que nos criou e somente por isso é que existimos de forma a sermos úteis no propósito dele.

Qual propósito? Não sei mas há uma dica: "façamos o homem a nossa imagem conforme a nossa semelhança ... e fez Deus o homem a sua imagem, a sua imagem o criou".

Talvez toda existência neste mundo temporal seja para que um dia possamos adquirir a semelhança do projeto original. Entendendo a fé, a confiança e principalmente o amor que parece ser a parte mais forte e importante dessa essência. Se há algo de real neste mundo tende a ser o amor.

Por fim, acredito que somente após obter a semelhança é que estaremos aptos a viver fora do espaço-tempo continuo. Mas o que é que eu realmente sei?